Ombro de nadador
OMBRO DO NADADOR – VISÃO ATUALIZADA
No último mês de maio, durante o Congresso da ISAKOS, que vem a ser o maior
evento médico científico em nível mundial sobre lesões esportivas, foram discutidas
medidas preventivas e terapêuticas do “ombro doloroso”, uma síndrome dolorosa
que ocorre principalmente nos indivíduos praticantes de atividades físicas ou
esportivas, que envolvem movimentos amplos da articulação do ombro. Estão
incluídos nestes esportes a natação, o beisebol, o tênis, o handebol e todos aqueles
que exigem o movimento chamado de “arremesso”, onde se realiza uma sequência
biomecânica de “rotação externa e abdução” seguida de “rotação interna e
adução” do ombro.
Durante a realização deste “gesto esportivo”, as estruturas articulares do ombro
(ossos, músculos, tendões e ligamentos) são levadas a um nível de exigência muito
alto e, com a repetição contínua do movimento, podem ser lesadas ao longo do
tempo.
Nos esportes aquáticos, temos o envolvimento do ombro através deste gesto
esportivo em todas as modalidades (natação, nado sincronizado, pólo aquático e
saltos ornamentais), portanto torna-se muito importante o entendimento de como
podemos minimizar os efeitos deletérios que podem ser gerados.
O primeiro ponto que deve ser analisado refere-se às atividades realizadas nos
treinamentos das categorias de base, principalmente naquelas abaixo da idade de
14 anos. A discussão sobre a carga de treinamento empregada nessas categorias,
diz respeito não só a “performance” do atleta, mas também aos cuidados com a
saúde do mesmo. Em recente pesquisa realizada nos EUA, foi divulgado que a
atividade esportiva é a maior causa de lesões em adolescentes americanos e que,
cerca de 50% destas lesões são ocasionadas por esforço repetitivo relacionado a
prática esportiva. Considerando que os EUA têm uma população de adolescentes
atletas estimada em 40 milhões de indivíduos e que, cerca de 3 milhões de crianças
recebem atendimento médico por ano devido à lesões esportivas, tornou-se lá um
fenômeno de saúde pública e assim foi criado um programa chamado S.T.O.P
(Sports Trauma and Overuse Prevention in Youth Sports), onde medidas estão
sendo tomadas em um conjunto que envolve profissionais de saúde, treinadores,
dirigentes esportivos e familiares dos atletas.
Os principais fatores de risco apontados neste estudo como potenciais geradores
de lesão são: gesto esportivo errado, erros de treinamento (volume e intensidade
inadequados), uso de equipamentos esportivos inadequados para treinamento,
pressão de treinadores e pais, especialização esportiva precoce, o não
reconhecimento precoce do surgimento de lesões e o desequilíbrio muscular
encontrados nesta faixa etária.
Baseado neste estudo, algumas medidas foram propostas visando diminuir a
incidência de lesões.
Valorizar de forma prioritária a correção da técnica envolvida no gesto esportivo,
evitar definitivamente os treinamentos ou as participações em competições sob
intensa fadiga muscular, como ocorre nos treinamentos muito volumosos e intensos
e na participação em inúmeras provas e competições em uma mesma temporada,
não estender demasiadamente uma temporada de competições. Um estudo
demonstrou que quando estas crianças competem mais do que 8 meses por ano, o
risco de lesões aumenta em até 500% e quando elas competem sob intensa fadiga,
este índice chega a 3600%.Outro aspecto importante a ser abordado, diz respeito ao condicionamento
muscular que deve ser realizado por todos os atletas que praticam o gesto do
“arremesso” em sua atividade esportiva, servindo tanto como prevenção como
tratamento das lesões que acometem a articulação do ombro.
Neste item, dois aspectos assumem grande importância: o primeiro sugere que
estes atletas realizem regularmente o protocolo de fortalecimento muscular dos
componentes do chamado “manguito rotador”, que compreende os músculos
supraespinhoso, infraespinhoso, redondo menor e subescapular mais a porção
longa do bíceps braquial (esta série se consegue realizar com a utilização de
elásticos (“theraband”), através dos movimentos de rotação interna, externa,
flexão, extensão e abdução do braço, em uma amplitude de 45 graus com cotovelo
fletido em 90 graus). Este trabalho facilita o posicionamento da cabeça umeral na
articulação, de forma a impedir que ocorra um grande impacto no ombro durante
a realização do gesto esportivo do “arremesso”; o segundo acrescenta a
necessidade de realizar também o trabalho de fortalecimento da musculatura
escapular (trapézio, grande dorsal, serrátil anterior, peitorais e rombóides), devido
ao fato de que a grande maioria destes atletas apresenta alterações da
movimentação da escápula (“discinesia escapular”), levando a um esforço
aumentado das estruturas articulares do ombro para seu adequado
posicionamento.
Este trabalho de fortalecimento muscular deve ser empregado com uma
importância similar àquela dada ao treinamento específico, para que os atletas se
conscientizem da sua necessidade e a incorporem em sua cultura esportiva. Além
disto, a forma de realização deste tipo de atividade requer um padrão de
excelência que deve ser atingido, pois sua inadequada realização determina uma
“falsa idéia” de ineficácia.
Portanto é fundamental que os atletas sejam orientados e supervisionados durante
a realização deste tipo de trabalho, pois não é incomum percebermos que atletas
que afirmam realizar esta atividade não apresentarem os efeitos da mesma, devido
a erros na sua prática.
Outro aspecto de real importância na prevenção e terapêutica do “Ombro do
Nadador” é a correção da técnica empregada no gesto esportivo. Estudos
demonstram que o excesso de rotação externa e abdução do ombro, no início da
fase de recuperação da braçada, seja uma das principais causas de impacto no
ombro do nadador e que a sua correção beneficia o atleta.
Em relação ao Pólo Aquático, onde além da natação o atleta realiza o movimento
do “chute”, a sobrecarga na articulação do ombro dominante é maior.
Um aspecto extremamente importante é a altura com que o atleta consegue
ultrapassar o nível da água no momento do arremesso. É fundamental que o atleta
deixe a maior parte do tronco fora d’água durante o “chute”, pois a musculatura
axial contribuirá para evitar o esforço demasiado do ombro. Quanto mais
“afundado” o atleta realiza o chute, maior será o impacto no ombro. Para
minimizar este impacto, torna-se fundamental o fortalecimento muscular dos
movimentos de pernas e principalmente do tronco, que promoverão uma maior
estabilidade dos gestos dos ombros, além da grande atenção dos técnicos das
categorias de base, onde estes movimentos ainda poderão ser corrigidos para o
restante da carreira esportiva .
É muito importante que todos os envolvidos com estes esportes participem de
forma ativa na conscientização e emprego destes conceitos na sua atividade
esportiva, pois quando falham estas intervenções e os atletas têm a necessidade depassarem por cirurgia, apenas cerca de 50% retornam ao mesmo nível de
qualidade atlética, segundo estudos recentes.